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6 - VERBO

Verbo é a palavra que, exprimindo ação ou apresentando estado ou mudança de um estado a outro, pode fazer indicação de pessoa, número, tempo, modo e voz.
Cantaremos é uma forma verbal, porque exprime uma ação (a de cantar), exercida (referência à voz) pela 1.a pessoa (referência à pessoa) do plural (referência ao número), do presente (referência ao tempo) do indicativo (referência ao modo).

As pessoas do verbo. - Geralmente as formas verbais indicam as três
pessoas do discurso, para o singular e o plural:

1.a pessoa do singular: eu canto
2.a pessoa do singular: tu cantas
3.a pessoa do singular: ele canta
   
1.a pessoa do plural: nós cantamos
2.a pessoa do plural: vós cantais
3.a pessoa do plural: eles cantam

Os tempos do verbo. - São:

a) PRESENTE - em referência a fatos que se passam ou se estendem ao momento em que falamos:

eu canto;

b) PRETÉRITO - em referência a fatos anteriores ao momento em que
falamos e subdividido em imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito:

cantava (imperfeito),
cantei (perfeito) e
cantara (mais-que-perfeito);

c) FUTURO - em referência a fatos ainda não realizados e subdividido em futuro do presente e futuro do pretérito:

cantarei (futuro do presente),
cantaria (futuro do pretérito).

Os modos do verbo. - São:

a) INDICATIVO - em referência a fatos reais:

canto, cantei, cantarei


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b) SUBJUNTIVO - em referência a fatos duvidosos, prováveis, possíveis, etc.

talvez cante, se cantasse

C) IMPERATIVO - exprime ordem, pedido, convite, conselho, súplica, etc.:

cantai.

As vozes do verbo. - São:

a) ATIVA : forma em que o verbo se apresenta para normalmente indicar que a pessoa a que se refere pratica a ação. A pessoa diz-se neste caso, agente da ação verbal:

eu escrevo a carta, tu visitaste o primo, nós plantaremos a árvore.

b) PASSIVA: forma verbal que indica que a pessoa recebe a ação verbal. A pessoa, neste caso, diz-se paciente da ação verbal:

A carta é escrita por mim, o primo foi visitado por ti, a árvore será plantada por nós.

A passiva pode ser analítica (formada com um dos verbos ser, estar, ficar seguido de particípio) ou pronominal (formada com verbo acompanhado do pronome oblíquo se, que se chama, no caso, pronome
apassivador
):

A casa foi alugada (passiva analítica).
Aluga-se a casa (passiva pronominal).

A passiva analítica difere da passiva pronominal em dois pontos:

1) pode apresentar o verbo em qualquer pessoa, enquanto a pronominal
só se constrói na 3.a pessoa:

Eu fui visitado pelos meus parentes.
Nós fomos visitados pelos parentes.

2) pode seguir-se de uma expressão que denota o agente da passiva, enquanto a pronominal, no português moderno, a dispensa obrigatoriamente:

Eu fui visitado pelos parentes.
Aluga-se a casa (não se diz aluga-se a casa pelo proprietário).

OBSERVAÇÃO: Em construções do tipo batizei-me, chamas-te José, há professores que vêem passiva pronominal com pronomes oblíquos de 1.a e 2.a pessoa. Outros, porém, não pensam assim, e interpretam o fato como um emprego da voz reflexiva, indicando "uma atitude de aceitação consciente do nome dado ou do batismo recebido" (J. MATOSO CÂMARA, Dicionário, 36).

c) REFLEXIVA: forma verbal que indica que a pessoa é, ao mesmo tempo, agente e paciente da ação verbal, formada de verbo seguido de
pronome oblíquo de pessoa igual à que o verbo se refere:

eu me visto, tu te feriste, ele se enfeita


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O verbo empregado na forma reflexiva diz-se pronominal.

Observações:

1.a) Com verbos como atrever-se, indignar-se, queixar-se, ufanar-se,
admirar-se
, não se percebe mais a ação rigorosamente reflexa, mas a indicação de que a pessoa a que o verbo se refere está vivamente afetada. Com os verbos de movimento ou atitudes da pessoa "em relação ao seu próprio corpo" como ir-se, partir-se, e outros como servir-se, onde o pronome oblíquo empresta maior expressividade à frase, também não se expressa a ação reflexa. Alguns gramáticos chamam ao pronome oblíquo, nestas últimas circunstâncias, pronome de realce.

2.a) A voz reflexiva, no plural, pode assumir sentido de reciprocidade:

Eles se odeiam (isto é, um odeia o outro).

Voz passiva e passividade. - É preciso não confundir voz passiva e passividade. Voz é a forma especial em que se apresenta o verbo para
indicar que a pessoa recebe a ação:

Ele foi visitado pelos amigos.
Alugam-se bicicletas.

Passividade é o fato de a pessoa receber a ação verbal. A passividade pode traduzir-se, além da voz passiva, pela ativa, se o verbo tiver sentido passivo:

Os criminosos recebem o merecido castigo.

Portanto nem sempre a passividade corresponde a voz passiva (1).

(1) Assim sendo, não se pode falar em voz passiva diante de linguagens do tipo osso duro de roer. Houve aqui, se interpretarmos roer = de ser roído, apenas
passividade, com verbo na voz ativa. Sobre o sentido ativo ou passivo do infinitivo, veja-se página 244.

Formas nominais do verbo. - Assim se chamam o infinitivo, o particípio e o gerúndio, porque, ao lado do seu valor verbal, podem desempenhar função de nomes. O infinitivo pode ter função de substantivo (recordar é viver = a recordação é vida); o particípio pode valer por um adjetivo (homem sabido) e o gerúndio por um advérbio ou adjetivo (amanhecendo, sairemos = logo pela manhã sairemos; água fervendo = água fervente). Nesta função adjetiva o gerúndio tem sido apontado como galicismo; porém, é antigo na língua este emprego.
As formas nominais do verbo, com exceção do infinitivo, não definem as pessoas do discurso e, por isso, são ainda conhecidas por formas infinitas.
Possuem desinências nominais idênticas às que caracterizam a flexão dos
nomes.
O infinitivo português, ao lado da forma infinita, isto é, sem indicação da pessoa do discurso, possui outra flexionada:

Infinito sem flexão Infinito flexionado
Cantar Cantar eu
  Cantares tu
  Cantar ele
   
  Cantarmos nós
  Cantardes vós
  Cantarem eles

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As formas nominais do verbo se derivam do tema (radical + vogal temática) acrescido das desinências:
a) -r: para o infinitivo: cantar, vender, partir.
b) -do: para o particípio: cantado, vendido (cf. pág. 113), partido).
c) -ndo: para o gerúndio: cantando, vendendo, partindo.

Observação: O verbo vir (e derivados) forma também o seu particípio com
a desinência -do; mas, pelo desaparecimento da vogal temática i, apresenta-se igual ao gerúndio: vindo (por vin-i-do) e vindo (vi-ndo).

Conjugar um verbo. - É dizê-lo, de acordo com um sistema determinado, em todas as suas formas nas diversas pessoas, números, tempos, modos e vozes.
Em português temos três conjugações caracterizadas pela vogal temática:
1.a conjugação - vogal temática a: amar, falar, tirar.
2.a conjugação - vogal temática e: temer, vender, varrer.
3.a conjugação - vogal temática i: partir, ferir, servir.

Observação: Não existe a 4.a conjugação; por é um verbo da 2.a conjugação
cuja vogal temática desapareceu no infinitivo.

Verbos regulares, irregulares e anômalos. - Díz-se que um verbo é regular quando se apresenta de acordo com o modelo de sua conjugação:

cantar, vender, partir.

No verbo regular também o radical não varia.Tem-se o radical de um verbo privando-o, no infinito sem flexão, das terminações -ar, -er, -ir:
am-ar, fal-ar, tir-ar, tem-er, vend-er, varr-er, part-ir, fer-ir, serv-ir.

Irregular é o verbo que, em algumas formas, apresenta variação no radical ou na flexão, afastando-se do modelo da conjugação a que pertence:
a) variação no radical em comparação com o infinitivo:
ouvir - ouço; dizer - digo; perder - perco;

b) variação na flexão, em relação ao modelo:
estou (veja-se canto), estás (veja-se cantas, um tônico e outro átono).

Os irregulares se dividem em fracos e fortes. Fracos são aqueles cujo radical do infinitivo não se modifica no pretérito:
sentir - senti; perder - perdi.

Fortes são aqueles cujo radical do infinitivo se modifica no pretérito perfeito:
caber - coube; fazer - fiz.

Os irregulares fracos apresentam formas iguais no infinitivo flexionado e futuro do subjuntivo:

Infinitivo Futuro do Subjuntivo
Sentir Sentir
Sentires Sentires
Sentir Sentir
   
Sentirmos Sentirmos
Sentirdes Sentirdes
Sentirem Sentirem

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Os irregulares fortes não apresentam identidade de formas entre o infinitivo flexionado e o futuro do subjuntivo.

Infinito flexionado Futuro do Subjuntivo
Caber Couber
Caberes Couberes
Caber, etc. Couber, etc.

Observação: Não entram no rol dos verbos irregulares aqueles que, para
conservar o som, têm de sofrer variação de grafia:

carregar - carrego - carreguei - carregues
ficar - fico - fiquei - fique

Não há portanto os irregulares gráficos.

Anômalo é o verbo irregular que apresenta, na sua conjugação, radicais
primários diferentes: ser (reúne o concurso de dois radicais, os verbos latinos sedēre e ěsse) e ir (reúne o concurso de três radicais, os verbos latinos ire, vadēre e ěsse).
Outros autores consideram anômalo o verbo cujo radical sofre alterações que o não podem enquadrar em classificação alguma:

dar, estar, ter, haver, ser, poder, ir, vir, ver, caber, dizer, saber, por, etc.

Verbos defectivos e abundantes. - Defectivo é o verbo que, na sua conjugação, não apresenta todas as formas:

colorir, precaver-se, reaver, etc.

A defectividade verbal é devida a várias razões, entre as quais a eufonia e a significação. Entretanto, a defectividade de certos verbos não se assenta em bases lógicas. Se a tradição da língua dispensa, por dissonante, a 1.a pessoa do singular do verbo colorir (coloro), não se mostra igualmente exigente com a 1.a pess. do singular do verbo colorar. Por outro lado, o critério de eufonia pode variar com o tempo e com o gosto dos escritores; daí aparecer de vez em quando uma forma verbal que a gramática diz não ser usada.

Quase sempre faltam as formas rizotônicas dos verbos defectivos. Suprimos, quando necessário, as lacunas de um defectivo empregando um sinônimo (derivado ou não do defectivo):

Eu recupero (para reaver); eu redimo (para remir).

Há os seguintes grupos de verbos defectivos, em português:
a) os que não se conjugam nas pessoas em que depois do radical aparecem a ou o :

banir, brandir, carpir, colorir, delir, explodir, fremer (ou fremir), haurir, ruir,
exaurir, abolir, demolir, puir, delinqüir, fulgir, feder, aturdir, bramir, jungir, esculpir,
extorquir, impingir, pruir, retorquir, soer, espargir.

Tais verbos também não se empregam no pres. do subjuntivo, imperativo
negat., e no imperat. afirmat. só apresentam as segundas pessoas do
sing. e pl.
 


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b) os que se usam unicamente nas formas em que depois do radical
vem i :
adir, aguerrir, emolir, empedernir, esbaforir, espavorir, exinanir, falir, fornir, remir,
ressequir, revelir, vagir, florir, renhir, garrir, inanir, ressarcir, transir, combalir.

c) oferecem particularidades especiais:

1 - precaver (-se) e reaver. No pres. ind. só. têm as primeiras pessoas do plural: precavemos, precaveis; reavemos, reaveis.

Imperativo: precavei, reavei.

Faltam-lhes o imperat. neg. e pres. do subj. No restante conjugam-se normalmente.

2 - adequar, antiquar : cabem-lhes as mesmas observações feitas ao
grupo anterior.

3 - grassar e rever (=destilar): só se usam nas terceiras pessoas.


OBSERVAÇÕES:

1.a) Muitos verbos apontados outrora como defectivos são hoje conjugados
integralmente:
agir, advir, compelir, desmedir-se, discernir, embair, emergir, imergir, fruir,
polir, prazer, submergir
. Ressarcir (cf. b) e refulgir (que alguns gramáticos só mandam conjugar nas formas em que o radical é seguido de e ou i) tendem a ser
empregados como verbos completos.

2.a) Os verbos que designam vozes de animais geralmente só aparecem nas terceiras pess. do sing. e plural, em virtude de sua significação, e são arrolados
como defectivos.

3.a) Também são considerados defectivos os verbos impessoais (pois não
se referem a sujeito), que só são empregados na terceira pess. sing.: Chove muito,
Relampeja.
Quando em sentido figurado, os verbos desta observação, como os da anterior,
conjugam-se em quaisquer pessoas: Chovam as bênçãos do céu.

ABUNDANTE é o verbo que apresenta duas ou três formas de igual valor e função: havemos e hemos; constrói e construi; pagado e pago; nascido, nato, nado (pouco usado).

Normalmente esta abundância de forma ocorre no particípio.
Os principais verbos que gozam deste privilégio, no português moderno são:

a) comprazer e descomprazer:

Pret. perf. ind. : comprazi, comprazeste, comprazeu, etc. ou comprouve, comprouveste, comprouve, etc.
M.-q-perf. ind. : comprazera, comprazeras, comprazera, etc. ou comprouvera,
comprouveras, comprouvera, etc.
Imperf. subj. : comprazesse, comprazesses, comprazesse, etc. ou comprouvesse,
comprouvesses, comprouvesse, etc.
Fut. subj. : comprazer, comprazeres, comprazer, etc. ou comprouver, comprouveres, comprouver, etc.