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3 - ARTIGO
Artigo é a palavra que se antepõe aos substantivos que designam seres determinados (o, a, os, as) ou indeterminados (um, uma, uns, umas).
Daí a divisão dos artigos em definidos (que são o, a, os, as) e indefinidos (um, uma, uns, umas):
Quero o livro.
Quero um livro.
No primeiro caso, o substantivo designa um livro determinado
e conhecido, inconfundível para a pessoa que fala ou escreve.
No segundo, o substantivo designa um livro qualquer dentre outros,
Precedido, de artigo definido pode também o substantivo exprimir a espécie
inteira:
O homem é mortal.
Não se trata aqui de um homem determinado, mas, sim, uma referência
ao ser humano em geral.
Nem sempre se evidencia a oposição entre o, a, os, as e um, uma, uns,
umas, porque os artigos aparecem em construções dos mais variados valores.
4 - PRONOME
Pronome é a expressão que designa os seres sem dar-lhes nome nem qualidade, indicando-os apenas como pessoa do discurso.
Pessoas do discurso. - Três são as pessoas do discurso:
a que fala (1.a pessoa),
a com que se fala (2.a pessoa)
e a pessoa ou coisa de que se fala (3.a pessoa).
Classificação dos pronomes. - Os pronomes podem ser:
pessoais, possessivos, demonstrativos (abarcando o artigo definido), indefinidos
(abarcando o artigo indefinido), interrogativos e relativos.
PRONOME SUBSTANTIVO e PRONOME, ADJETIVO. - O pronome pode aparecer em referência a substantivo claro ou oculto:
Meu livro é melhor que o teu.
Meu e teu são pronomes porque dão idéia de posse em relação à pessoa do discurso: meu (1.a pessoa, a que fala), teu (2.a pessoa, a com que se fala). Ambos os pronomes estão em referência ao substantivo livro que vem expresso no início, mas se cala no fim por estar perfeitamente claro ao falante e ouvinte. Esta referência a substantivo caracteriza a função
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adjetiva de certos pronomes. Muitas vezes, sem que tenha vindo expresso
anteriormente, dispensa-se o substantivo, como em: Dar o seu a seu
dono (onde ambos os pronomes possessivos são adjetivos).
Já em: Isto é melhor que aquilo, os pronomes isto e aquilo não se referem a nenhum substantivo, mas fazem as vezes dele. São, por isso, pronomes substantivos.
Há pronomes que são apenas substantivos ou adjetivos, enquanto outros podem aparecer nas duas funções.
Pronomes pessoais. - Os pronomes pessoais designam as três
pessoas do discurso:
1.a pessoa: eu (singular), nós (plural),
2.a pessoa: tu (singular), vós (plural) e
3.a pessoa: ele, ela (singular), eles, elas (plural).
O plural nós indica eu mais outra ou outras pessoas, e não eu +
eu.
As formas eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas, que funcionam como sujeito, se dizem retas. A cada um destes pronomes pessoais retos, corresponde um pronome pessoal oblíquo que funciona como complemento e pode apresentar-se em forma átona ou forma tônica. Ao contrário das formas átonas, as tônicas vêm sempre presas a preposição:
PRONOMES PESSOAIS RETOS | PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS | |
átonos (sem prepos.) | tônicos (c/prep.) | |
Singular: | ||
1.a pessoa: eu | me | mim |
2.a pessoa : tu | te | ti |
3.a pessoa: ele, ela | lhe, o, a, se | ele, ela, si |
Plural : | ||
1.a pessoa: nós | nos | nós |
2.a pessoa: vós | vos | vós |
3.a pessoa: eles, elas | lhes, os, as, se | eles, elas, si |
Exemplos de pronomes oblíquos átonos:
"Queixamo-nos da fortuna (destino) para
desculpar a nossa preguiça" (Marquês de-
Maricá).
"A melhor companhia acha-se em uma escolhida
livraria" (IDEM).
Exemplos de pronomes oblíquos tônicos:
"Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós
mesmos: são os nonos erros, vícios e paixões" (IDEM).
"As virtudes se harmonizam, os vícios discordam entre
si" (IDEM).
Se a preposição é com, dizemos comigo, contigo,
consigo, conosco, convosco e não: com mi, com ti,
etc. Empregam-se, entretanto, com nós e com vós quando estes
pronomes tônicos vêm seguidos de mesmos, próprios, todos,
outros ou oração adjetiva.
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PRONOME OBLÍQUO REFLEXIVO. - É o pronome oblíquo da mesma pessoa do pronome reto, significando a mim mesmo, a ti mesmo etc.:
Eu me vesti rapidamente.
Nós nos vestimos.
Eles se vestiram.
PRONOME OBLÍQUO RECÍPROCO. - É representado pelos pronomes nos, vos, se quando traduzem a idéia de um ao outro, reciprocamente.
Nós nos cumprimentamos (um ao outro).
Eles se abraçaram (um ao outro).
PRONOME DE TRATAMENTO - Existem ainda formas de tratamento indireto de 2.a pessoa que levam o verbo para a 3.a pessoa. São os chamados pronomes de tratamento.
você, vocês (no tratamento familiar)
o Senhor, a Senhora (no tratamento cerimonioso)
A estes pronomes de tratamento pertencem as formas de reverência que consistem em nos dirigirmos às pessoas pelos seus atributos ou qualidades que ocupam:
Vossa Alteza (V. A., para príncipes, duques)
Vossa Eminência (V. Em.a, para cardeais)
Vossa Excelência (V. Ex.a, para altas patentes militares, ministros, Presidente
da República, pessoas de alta categoria, bispos e arcebispos)
Vossa Magnificência (para reitores de universidade)
Vossa Majestade (V. M., para reis, imperadores)
Vossa Mercê (V. M.cê, para as pessoas de tratamento cerimonioso)
Vossa Onipotência (para Deus - não se usa abreviadamente)
Vossa Reverendíssima (V. Rev.ma, para os sacerdotes)
Vossa Senhoria (V. S.a, para oficiais até coronel, funcionários graduados,
pessoas de cerimônia).
Observações:
1.a) Emprega-se Vossa Alteza (e demais) quando 2.a pessoa,
isto é, em
relação a quem falamos, emprega-se Sua Alteza (e demais) quando 3.a
pessoa, isto é, em relação de quem falamos.
2.a) Você, hoje usado familiarmente, é a redução da forma de reverência Vossa
Mercê. Caindo o pronome vós em desuso, só usado nas orações e estilo
solene, emprega-se vocês como o plural de tu.
3.a) O substantivo gente, precedido do artigo a e em
referência a um
grupo de pessoas em que se inclui a que fala, ou a esta sozinha, passa a pronome
e se emprega fora da linguagem cerimoniosa. Em ambos os casos o verbo fica na
3.a pessoa do singular:
"È verdade que a gente, às vezes, tem cá as suas birras" (ALEXANDRE
HERCULANO, Lendas e Narrativas, II, 158)
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Pronomes possessivos. - São os que indicam a posse em referência às três
pessoas do discurso:
SINGULAR: | 1.a pessoa: | meu | minha | meus | minhas |
2.a pessoa : | teu | tua | teus | tuas | |
3.a pessoa: | seu | sua | seus | suas | |
PLURAL: | 1.a pessoa: | nosso | nossa | nossos | nossas |
2.a pessoa: | vosso | vossa | vossos | vossas | |
3.a pessoa: | seu | sua | seus | suas |
Pronomes demonstrativos. - São os que indicam a posição dos seres
em relação às três pessoas do discurso.
Esta localização pode ser no tempo, no espaço ou no discurso:
1.a pessoa: este, esta, isto
2.a pessoa: esse, essa, isso
3.a pessoa: aquele, aquela, aquilo
Este livro é o livro que está perto da pessoa que fala;
esse livro é o que está longe da pessoa que fala ou perto da pessoa com
quem se fala;
aquele livro é o que se acha distante da 1.a e da 2.a pessoa.
Nem sempre se usam com este rigor gramatical os pronomes
demonstrativos; muitas vezes interferem situações especiais que escapam à
disciplina
da gramática.
São ainda pronomes demonstrativos o, mesmo, próprio, semelhante e tal.
O (com as variações a, os, as) equivale a isto, isso, aquilo, aquele, aquela, aqueles, aquelas.
Não sei o que dizes.
O que me pedes é impossível.
"Sigam-me os que forem brasileiros".
Não o consentirei jamais.
O pronome o, perdido o seu valor essencialmente
demonstrativo e posto antes de substantivo, como adjunto, recebe o nome de
artigo definido. Assim é que a gramática, no exemplo seguinte, considera o
primeiro os artigo definido e o segundo pronome demonstrativo:
"Os homens de extraordinários talentos são ordinariamente os de menor juízo"
(Marquês de MARICÁ).
Mesmo, próprio, semelhante e tal têm valor demonstrativo quando denotam identidades ou se referem a seres e idéias já expressas anteriormente, e valem por esse, essa, aquele, aquela, isso, aquilo:
"Depois, como Pádua falasse ao sacristão baixinho, aproximou-se
deles; eu
fiz a mesma coisa" (M. DE Assis, D. Casmurro, 87).
"Não paguei uns nem outros, mas saindo de almas cândidas e
verdadeiras tais
promessas são como a moeda fiduciária..." (IDEM, ibid., 202).
É proibido dizeres semelhantes coisas.
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Mesmo e próprio aparecem ainda reforçando pronomes pessoais:
Ela mesma quis ver o problema.
Nós próprios o dissemos.
"Tal faço eu, à medida que me vai lembrando, convindo à construção
ou
reconstrução de mim mesmo" (M. DE Assis, ibid., 203).
Pronomes indefinidos. - São os que se aplicam à 3.a pessoa quando tem sentido vago ou exprimem quantidade indeterminada.
Funcionam como pronomes indefinidos substantivos, todos
invariáveis:
alguém, ninguém, tudo, nada, algo, outrem.
"Ninguém mais a voz sentida
Do Trovador escutou !" (G. Dias).
São pronomes indefinidos adjetivos, todos variáveis, com exceção de
cada: nenhum, outro (também isolado), um (também isolado),
certo,
qualquer (só variável em número: quaisquer), algum, cada:
"As tiras saem-lhe das mãos, animadas e polidas. Algumas trazem poucas emendas ou nenhumas" (M. DE Assis, Várias Histórias, 274).
"A vida a uns, a morte confere celebridades a outros (Marquês de Maricá).
Aplicam-se a quantidades indeterminadas os indefinidos, todos
variáveis
com exceção de mais e menos: muito, mais, menos, pouco, todo,
algum, tanto, quanto, vários, diversos:
Mais amores e menos confiança (nunca menas!).
Com pouco dinheiro compraram diversos presentes.
Isto é o menos que se pode exigir.
Muito lhe devo.
Erraste por pouco.
Quantos não erraram neste caso!
Observação: O pronome indefinido um pode ser usado como
substantivo,
principalmente nas locuções do tipo cada um, qualquer um. Como adjetivo
recebe o nome de artigo indefinido.
As duplas quem... quem, qual... qual, este... este, um... outro
com sentido distributivo também são pronomes indefinidos:
"Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
com esperanças mil nas idéias acesas" (BOCAGE).
Isto é: um se abisma. . . outro discorre.
Muitas vezes a posição da palavra altera seu sentido e sua classificação:
Certas pessoas (pron. indef.) não chegam na hora certa
(adjetivo), mas
em certas horas (pron. indefinido).
Algum livro (= certo livro). Livro algum (= nenhum livro).
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Em outras épocas algum podia ter sentido afirmativo ou negativo independente de sua posição:
"Desta gente refresco algum tomamos" (Camões, Lusíadas, V,
69).
Refresco algum = algum refresco.
"Vós a quem somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo" (IDEM, ibid., VII, 2).
Algum perigo = nenhum perigo.
LOCUÇÃO PRONOMINAL INDEFINIDA. - É o grupo de palavras que vale por um pronome indefinido. Eis as principais locuções:
cada um, cada qual, qualquer um, quem quer, quem quer que, o que quer que, seja quem for, seja qual for, quanto quer que, o mais, alguma coisa.
"As verdades não parecem as mesmas a todos, cada um as vê em ponto diverso de perspectiva" (Marquês de MARICÁ).
Pronomes interrogativos. - São os pronomes indefinidos
quem, que,
qual e quanto, que se empregam nas perguntas:
Quem veio aqui?
"Que cabeça, senhora?"
Que compraste?
Qual autor desconhece?
Qual consideras melhor?
Quantos vieram?
Quantos anos tens?
Em lugar de que pode-se usar a forma enfática o que:
"Agora por isso, o que será feito de frei Timóteo?1 Era
naquele tempo
um frade guapo e alentado! O que será feito dele?" (A. Herculano, Lendas
e
Narrativas, II, 135)
Quem refere-se a pessoas, e é pronome substantivo.
Que refere-se a pessoas ou coisas, e é pronome substantivo (com o
valor de que coisa?) ou pronome adjetivo (com o valor de que espécie?)
Qual e também que, indicadores de seleção, normalmente são
pronomes adjetivos:
Em qual livraria compraremos o presente?
Em que livraria compraremos o presente?
Ressalta-se ainda a seleção antepondo ao substantivo no plural a expressão qual dos, qual das:
Em qual dos livros encontraste o exemplo?
OBSERVAÇÃO: Estes interrogativos saem normalmente dos pronomes
indefinidos e por isso costumam ser chamados indefinidos interrogativos.
Aparecem ainda nas exclamações, e neste caso o que adquire sentido
francamente intensivo: Que susto levei!
(Compare-se com: "Que cabeça, senhora?").
Diz-se interrogação direta a pergunta que termina por ponto de interrogação e se caracteriza pela entoação ascendente: Quem veio aqui?
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Interrogação indireta é a pergunta que: a) se faz
indiretamente e para a qual não se pede resposta imediata; b) é proferida com
entoação normal descendente; c) não termina por ponto de interrogação; d) vem
depois de verbo que exprime interrogação ou incerteza (perguntar,
indagar,
não saber, ignorar, etc.):
Quero saber quem veio aqui.
Eis outros exemplos de interrogação indireta começados pelos
pronomes
interrogativos já citados:
Ignoro que cabeça, senhora.
Indagaram-me que compraste.
Perguntei-te por que vieste aqui.
Não sei qual autor desconhece.
Desconheço qual consideras melhor.
Indagaram quantos vieram.
Pronomes relativos. - São os que normalmente se referem a um termo anterior chamado antecedente:
Eu sou o freguês que por último compra o jornal.
(O que se refere à palavra freguês.)
Os pronomes relativos são: qual, o qual (a qual, os
quais, as quais),
cujo (cuja, cujos, cujas), que, quanto (quanta, quantos,
quantas), onde.
Quem se refere a pessoas ou coisas personificadas e sempre
aparece
precedido de preposição. Que e o qual se referem a pessoas ou
coisas.
Que e quem funcionam como pronomes substantivos. O qual aparece como substantivo ou adjetivo:
As pessoas de quem falas não vieram.
O ônibus que esperamos está atrasado.
Não são poucas as alunas que faltaram.
Este é o assunto sobre o qual falará o professor.
Não vi o menino, o qual menino os colegas procuram.
A casa onde moro é espaçosa.
Cujo, sempre com função adjetiva, exprime que o antecedente
é possuidor
do ser indicado pelo substantivo a que se refere:
Ali vai o homem cuja casa comprei
(a casa do homem).
Quanto tem por antecedente um pronome indefinido (tudo, todo, todos, todas, tanto):
Esqueça-se de tudo quanto lhe disse.
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PRONOMES RELATIVOS SEM ANTECEDENTE. - Os pronomes relativos quem e onde podem aparecer com emprego absoluto, sem referência a antecedentes:
Quem tudo quer tudo perde.
Dize-me com quem andas e eu te direi quem és.
Moro onde mais me agrada.
Quem, assim empregado, é considerado como do gênero masculino e do número singular:
Quem com ferro fere com ferro será ferido.
OBSERVAÇÃO: Os relativos sem antecedentes também se dizem
relativos
indefinidos.
Muitos autores preferem, neste caso, subentender um antecedente adaptável
ao contexto. Interpretando quem como a pessoa que, onde como o
lugar em que, assim substituem:
Quem tudo quer tudo perde = a pessoa que tudo quer tudo perde.
Este duplo modo de encarar o problema tem repercussões diferentes
na
classificação das orações subordinadas, conforme veremos na pág. 221.