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II - Morfologia
A) Classes de vocábulos
1 - Substantivo
Substantivo é o nome com que designamos seres em geral - pessoas, animais e coisas.
Concretos e abstratos. - Os substantivos se dividem em concretos e abstratos. Os concretos são próprios e comuns.
Substantivo concreto é o que designa ser de existência independente:
casa, mar, sol, automóvel, filho, mãe.
Substantivo abstrato é o que designa ser de existência dependente:
prazer, beijo, trabalho, saída, beleza, cansaço.
Os substantivos concretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas.
Os substantivos abstratos designam ações (beijo, trabalho, saída, cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual.
Próprios e comuns. - Substantivo próprio é o que designa individualmente os seres, sem referência a suas qualidades:
Pedro, Brasil, Rui Barbosa.
Substantivo comum é o que designa o ser como pertencente a uma classe com o mesmo conjunto de qualidades:
casa, mar, sol, automóvel.
Não é qualquer coisa que pode receber o nome de casa, mar, sol ou automóvel. É necessário que observemos nesses seres certas características
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para que sejam assim designados. Já nos substantivos próprios não se dá atenção a essas qualidades. O nome Pedro, ou Brasil, ou Rui Barbosa, nada nos dizem a respeito dos seres designados; são apenas distintivos individuais que, só por coincidência, se podem aplicar a outras pessoas ou lugares.
Passagem de nomes próprios a comuns. - Não nos prendemos apenas á pessoa ou coisa nomeada; observamos-lhe qualidades e defeitos que se podem transferir a um grupo mais numeroso de seres. Os personagens históricos, artísticos e literários pagam o tributo de sua fama com o desgaste do valor individualizante do seu nome próprio, que por isso, passa a comum.
Por esta maneira é que aprendemos a ver no Judas não só o nome de um dos doze apóstolos, aquele que traiu Jesus; é também a encarnação mesma do traidor, do amigo falso, em expressões do tipo: Fulano é um Judas.
Desta aplicação general de um nome próprio temos vários outros exemplos: dom-joão (homem formoso; galanteador; irresistível às mulheres), tartufo (homem hipócrita; devoto falso), cicerone (guia de estrangeiros, dando-lhes informações que lhes interessam), benjamim (filho predileto, geralmente o mais moço; o mais jovem membro de uma agremiação; prende-se ao personagem bíblico que foi o último e predileto filho de Jacó), áfrica (façanha; proeza; revive as façanhas dos antigos portugueses nessas terras).
Passam a substantivos comuns os nomes próprios de fabricantes, e de lugares onde se fazem ou se fabricam certos produtos: estradivários (= violino de Stradivárius), guilhotina (de J, Inácio Guillotin), macadame (do engenheiro Mac Adam), sanduíche (de conde de Sandwich), havana (charuto; em Portugal havano), champanha (de região francesa Champagne), cambraia (da cidade francesa de Cambray);
Substantivo coletivo. - É o que se aplica aos seres considerados em conjunto: congregação, turma, exército, multidão, povo, rebanho, lataria.
São coletivos usuais:
a) Conjunto de pessoas:
Alcatéia, bando, caterva, corja, horda, farândula, malta, quadrilha, récova, súcia, turba de ladrões, desordeiros, de assassinos, malfeitores e vadios.
Associação, clube, comício, comissão, congresso, conselho, convenção, corporação, grêmio, sociedade de pessoas, reunidas para fim comum.
Assistência, auditório, concorrência, aglomeração, roda de assistentes, ouvintes ou espectadores.
Cabido de cônegos de uma catedral.
Caravana de viajantes.
Claque, torcida de espectadores para aplaudir ou patear.
Clientela de clientes, de advogados, de médicos, etc.
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Comitiva, cortejo, séguito ou séqüito, acompanhamento de pessoas que acompanham outra por dever ou cortesia.
Comunidade, confraria, congregação, irmandade, ordem de religiosos.
Concilio, conclave, consistório, sínodo, assembléia de párocos ou de outros padres.
Coro, conjunto, bando de pessoas que cantam juntas.
Elenco de artistas de ima companhia, peça ou filme.
Equipagem, marinhagem, companha, maruja, tripulação de marinheiros.
Falange de heróis, guerreiros, espíritos.
Junta de credores, de médicos.
Pessoal de uma fábrica, repartição, pública ou escola, loja.
Plêiade ou plêiada de poetas, artistas, talentos.
Ronda de policias que percorrem as ruas velando pela ordem pública.
Turma de estudantes, trabalhadores, médicos.
b) Grupo de animais:
Alcatéia de lobos, panteras ou outros animais ferozes.
Bando, revoada de aves, pardais.
Califa de camelos.
Cardume, boana, corso (ò), manta de peixes.
Colméia, enxame, cortiço de abelhas.
Correição, cordão de formigas.
Fato, rebanho de cabras.
Fauna, conjunto de animais próprios de uma região.
Gado, conjunto de animais criados nas fazendas.
Junia, abesana, cingel, jugo, jugada de bois.
Lote de burros, grupos de bestas de carga.
Malhada de cavalos, porcos, éguas.
Matilha de cães.
Ninhada, rodada de pintos.
Nuvem, miríade, onda, praga de gafanhotos, maribondos, percevejos.
Piara, vara de porcos.
Récova, récua de cavalgaduras.
Rebanho, armento, armentio, grei, maromba de bois, ovelhas.
c) Grupo de coisas.
Acervo, chorrilho, enfiada de asneiras, de tolices. Acervo também se aplica aos bens materiais: É grande o acervo da Biblioteca Nacional.
Antologia, analecto, crestomatia, coletânea, florilégio, seleta de trechos literários ou científicos.
Aparelho, baixela, serviço de chá, café, jantar.
Arquipélago, grupo de ilhas.
Armada, esquadra, frota de navios de guerra.
Bateria, fileira de peças de artilharia.
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Braçada, braçado, buquè, ramo, ramalhete (é), festão de flores.
Cacho de uvas, de bananas.
Cancioneiro de canções. É erro empregar o vocábulo como sinônimo de cantor em expressões como cancioneiros românticos.
Carrada de razões.
Chuva, chuveiro, granizo, saraiva, saraivada de balas, de moedas, de livros.
Coleção de selos, de quadros, de medalhas, de moedas, de livros.
Constelação de estréias.
Cordilheira, cadeia, série de montes, de montanhas.
Cordoalha, cordame, enxárcia de cabos de um navio.
Feixe, lio, molho (ó) de lenha, de capim.
Fila, fileira, linha de cadeiras.
Flora, conjunto de plantas de uma determinada região.
Galeria de quadros, de estátuas.
Gavela ou gabela, paveia, feixe de espigas.
Herbário, coleção de plantas para exposição ou estudo.
Hinário de hinos.
Instrumental de instrumentos de orquestra, de qualquer oficio mecânico, de cirurgia.
Mobília, mobiliário de móveis.
Monte, montão de pedras, de palha, de lixo.
Penca de bananas, de laranjas, de chaves.
Pilha, ruma de livros, de malas, de tábuas.
Réstia de cebolas, de alhos.
Seqüência, série de cartas do mesmo naipe.
Troféu de bandeiras.
Obs. Para ouros coletivos consulte-se o dicionário.
Formação do plural dos substantivos
Em português há dois números gramaticais: singular e plural. O singular indica o objeto ou coleção em si; o plural denota-os indicando mais de um.
a) Formação do plural com acréscimo de s.
Forma-se o plural acrescentando-se s aos nomes terminados por:
1 - vogal ou ditongo oral: livro, livros; lei, leis; cajá, cajás
2 - ditongos nasais ãe o ão (átono): mãe, mães; bênção, bênçãos
3 - vogal nasal ã: imã, imãs; irmã, irmãs
4 - m (grafando-se ns) : dom, dons
Observação: Totem, também grafando tóteme, tem os plurais totens e tótemes.
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b) Formação do plural com acréscimo de es.
Acrescenta-se es para formar o plural dos nomes terminados por:
1 - s (em sílaba tônica): ás, ases; freguês, fregueses
2 - z (em sílaba tônica): luz, luzes; giz, gizes
3 - r: cor, cores; elixir, elixires; revólver, revólveres.
c) Plural dos nomes terminados em n.
Acrescenta-se e ou es. Melhor fora dar-lhes uma feição mais de acordo com a nossa língua. Damos uma pequena lista, pondo entre parênteses a forma que deve substituir a irregular terminada em -n:
abdómen (abdome): abdomens ou abdômenes
certámen (certame): certamens ou certâmens
dólmen (dolmem): dolmens ou dólmenes
espécimen (espécime): espécimens ou especimenes
germen (germe): germens ou gérmenes
hifen (hifem): hifens ou hífenes
pólen (polem): polens ou pólenes
regimen (regime): regimes ou regimenes
Cânon, melhor grafado, cânone, faz cânones.
éden (melhor seria, edem, mas não registrada no PVOLP (Pequeno Vocabulário Ortográfico da Lingual Portuguesa) passa a edens.
Nota: Recorde-se que apenas são acentuados os paroxítonos terminados em -n e não os em -ns; Daí: hífen mas hífens (sem acento agudo).
d) Plural dos nomes terminados em ão
Repartem-se estes nomes por três formas de plurais:
1) ões (a maioria deles):
coração, corações; questão, questões; melão, melões; razão, razões.
2) ães:
cão, cães; capelão, capelães; alemão, alemães; capitão, capitães;
escrivão, escrivães; tabelião, tabeliães; pão, pães; maçapão, maçapães;
mata-cão, mata-cães; catalão, catalães.
3) ãos:
chão, chãos; cidadão, cidadãos; cristão, cristãos; desvão, desvãos; grão, grãos; irmão, irmãos; mão, mãos; pagão, pagãos
e os paroxítonos apontados em a) 2.
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Muitos nomes apresentam dois e até três plurais:
aldeão | aldeãos | aldeões | aldeães |
ancião | anciãos | anciões | anciães |
charlatão | charlatões | charlatães | |
corrimão | corrimãos | corrimões | |
cortesão | cortesãos | cortesões | |
deão | deãos | deões | deâes |
ermitão | ermitãos | ermitões | ermitães |
fuão | fuãos | fuões | |
guardião | guardiões | guardiães | |
refrão | refrãos | refrães | |
sacristão | sacristãos | sacristães | |
truão | truões | truães | |
vilão | vilãos | vilões | vilães |
vulcão | vulcãos | vulcões |
e) Plural dos nomes terminados em al, ol, ul.
Trocam o l por is :
carnaval, carnavais; lençol, lençóis; álcool, álcoois; paul, pauis (a-ú).
Notem-se os casos particulares:
1 - cônsul e mal fazem cônsules e males.
2 - cal e aval fazem cales (=cano) e cais, avales
(mais comum em Portugal), avais.
3 - real ( = moeda) faz réis.
f) Plural dos nomes terminados em il.
Os terminados em -il átono fazem o plural trocando -il por -eis:
Fóssil, fósseis.
Se o -il for tônico, trocam o l por s:
funil, funis.
Réptil e projétil, como paroxítonos, fazem répteis e
projéteis; como
oxítonos, reptil e projetil fazem reptis e projetis.
g) Plural dos nomes terminados em el.
Fazem o plural em -eis se o final do singular for átono e -éis se for tônico:
nível, níveis, móvel, móveis.
papel, papéis; coronel, coronéis.
Mel faz meles ou méis; fel faz feles ou féis.
h) Plural dos nomes terminados em x (= ce)
Os terminados em -x com o valor do ce (final com que podem também ser grafados) fazem o plural em -ces:
cálix (ou cólice), cálices; apêndix (ou apêndice), apêndices.
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Palavras que não variam no plural., - Não variam no plural os nomes terminados em:
a) s (em sílaba átona; palavras sigmáticas): o pires, os pires; o lápis, os lápis.
Simples faz símpleces ou, o que é mais comum, não varia. Cais e xis são invariáveis, o cais, os cais; o xis, os xis;
b) x (com o valor de cs): o tórax, os tórax; o ônix, os ônix.
Observações: Alguns vocábulos com x = cs possuem a variante em -ce:
índex ou índice; ápex ou ápice; códex ou códice. Seus plurais são respectivamente índices, códices, ápices. Aliás, elo preferíveis as grafias índice, ápice e códice, no singular.
Plurais com alteração de o fechado para o aberto (metafonia). - Muitas palavras com o fechado tônico, quando passam ao plural, mudam esta vogal para o aberto:
miolo - miolos.
Dentre as que apresentam esta mudança (chamada metafonia) na vogal tônica lembraremos aqui as mais usuais:
abrolho | fogo | porco |
antolho | forno | porto |
caroço | foro | posto |
choco | fosso | povo |
corcovo | imposto | reforço |
coro | jogo | rogo |
corpo | miolo | sobrolho |
corvo | mirolho | socorro |
despojo | olho | tijolo |
destroço | osso | torto |
escolho | ovo | troco |
esforço | poço | troço |
Continuam com o fechado no plural
acordo | esboço | logro |
adorno | esposo | morro |
almoço | estorvo | repolho |
alvoroço | ferrolho | rolo |
arroto | fofo | sogro |
bota | forro | soldo |
bojo | gafanhoto | sopro |
bolo | globo | soro |
bolso | gorro | toco |
cachorro | gosto | toldo |
caolho | gozo | topo |
coco | horto | torno |
contorno | jorro | transtorno |
Não sofrem alteração os nomes próprios e os de família: os Diogos, os Mimosos,
os Raposos, os Portos.